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4 de fevereiro de 2008

Wagner Tiso ganha coletânea eclética


Tem de Maysa a Fagner, passando por Mercedes Sosa, Gal Costa, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Fafá de Belém e Johnny Alf. "Da Sanfona à Sinfônica" é uma eclética caixa com quatro CDs, documentando os 40 anos da trajetória de Wagner Tiso como arranjador.

Nada mais sintomático do salto qualitativo do "status" do arranjador na MPB, por sinal, do que o lançamento de uma coleção em que canções díspares são enfeixadas tendo como fator unificador não o intérprete, mas o orquestrador. Não custa lembrar que, nos velhos tempos do LP, a presença de uma ficha técnica com créditos para os arranjos parecia constituir antes exceção do que regra.

Trata-se de uma generosa coletânea com, ao todo, 59 faixas -todas elas, gravações originais de arranjos de Tiso. A mais antiga é um arranjo a quatro mãos com Paulo Moura para "O Sonho", de Egberto Gismonti, na voz de Agostinho dos Santos, em 1968; a mais recente, "A Flor e o Cais", parceria com Geraldo Carneiro, cantada por Cauby Peixoto, em 2006, com acompanhamento luxuoso da Orquestra Petrobras Sinfônica, em parceria com a qual, desde 2004, o músico vem desenvolvendo uma série de concertos, intitulada MPB & Jazz. No meio do caminho, tem, é claro, muita música mineira.
Natural, assim como Milton Nascimento, de Três Pontas, Tiso foi um dos nomes mais proeminentes do Clube da Esquina, movimento que, na década de 1960, mesclava os timbres do rock e as harmonias do jazz "fusion" a um melodismo que parecia brotar naturalmente das pedras e cachoeiras de Minas Gerais.

Talvez o melhor da caixa sejam justamente itens como "Nuvem Cigana", do histórico LP "Clube da Esquina" (1972); "Feira Moderna", de Lô Borges, Beto Guedes e Fernando Brant; e "Milagre dos Peixes", em que a voz do Milton, então (1974) imaculada, é acompanhada pelo Som Imaginário, grupo em que Tiso tocava teclados.

Teclados datados

O gosto do músico pelos teclados, por sinal, representa o que há de mais datado -e questionável- nos arranjos da caixa. No texto do encarte, João
Máximo explica que houve uma época em que a utilização dos teclados eletrônicos era uma imposição dos produtores dos discos, "exigência em nome da economia".
Podemos ouvir como esse "barato" saía caro em termos artísticos. Se, nos anos 1980, já não tinha muita graça aquela sucessão de timbres sintetizados, hoje, então, sua sonoridade possui infalível poder de cansar e saturar o ouvinte.
Que Tiso podia e pode mais do que isso está comprovado no álbum, em itens como as delicadas harpas e sopros com os quais ele emoldura o acento luso de Eugênia Melo e Castro em "Soneto da Separação", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ou as cordas que acarinham o violão de Garoto em "Vivo Sonhando".

Em meio a uma produção tão vasta, abarcando um notável espaço de tempo, e poéticas distintas, pode-se dizer que a caixa tem um pouco para todos os gostos, mas será difícil quem consiga extrair prazer de tudo.
Enquanto uns vão se esbaldar com Djavan em "Meu Bem Querer"; Sá e Guarabyra, em "Dona"; ou Tetê Espíndola em "Escrito nas Estrelas", outros, enfadados desta sonoridade de FM dos anos 1980, talvez prefiram descobrir o seresteiro Luiz Cláudio entoando as "Rugas", de Nelson Cavaquinho.

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