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10 de setembro de 2010

A saída para um partido de fogo morto

PMDB e DEM fazem as contas de uma incorporação

As listas públicas dos milhares cujo sigilo foi quebrado garantirão uma manchete por dia até as eleições. Quando o último voto for contado, a imprensa terá descoberto que mais uma campanha eleitoral passou por baixo de suas pernas. A apuração dos vazamentos estará longe de sua conclusão, mas o mapa político do país terá sido redesenhado. Seus contornos só serão conhecidos a posteriori, embora o mercado eleitoral já forneça claros indícios do que está por vir.

A crônica da escandalogia ignora, por exemplo, a movimentação para o novo Congresso. Qualquer que seja o eleito, a Presidência estará desprovida de um ocupante com a capacidade de comunicação do atual titular. A ausência de um presidente que se confunde com seus governados pode desinibir o Congresso a fazer política.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se antecipou a esse fortalecimento do Congresso ao pôr em curso uma frente liderada pelo PT agregando antigos aliados como PSB, PDT e PCdoB. Um de seus objetivos seria conter o poder revigorado com que o PMDB iniciaria um eventual governo Dilma Rousseff. Mas o partido de Michel Temer também já está de olho num primo pobre, que já foi arrimo de família, mas ainda deve sair das eleições com capacidade de encorpar uma parceria, o DEM.

Nem um lado nem o outro assumem abertamente os termos da discussão, mas o nome é esse mesmo: incorporação.

Não é de hoje que o DEM declina, mas esta eleição deve marcar um mergulho acentuado ao fundo do poço. O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), que enfrenta uma difícil reeleição, resumiu ao repórter César Felício o drama do partido: "A chave para Serra sair da situação está na mídia eletrônica e não nos palanques regionais". Em português, Serra que faça bom uso do escândalo da Receita. No seu reduto Agripino tem mais é que buscar voto.

O partido elegeu 14 senadores, mas hoje apenas seis deles têm mais quatro anos de mandato. Graças a estes não será transformado em partido nanico no Senado porque, desta vez, apenas Demóstenes Torres (GO) tem reeleição garantida.

Na Câmara, a situação é igualmente dramática. O partido que chegou a ter a maior bancada (105) da Casa no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, elegeu 65 em 2006 e não há previsões realistas de que este ano ultrapasse os 40 deputados.

A estratégia de sair dos grotões e se firmar no centro-sul fracassou. Mingua do Oiapoque a Chuí.

Tendo perdido seu único governador, José Roberto Arruda (DF), para o ralo, a legenda disputa como cabeça de chapa três Estados, Santa Catarina, Sergipe e Rio Grande do Norte, mas só neste último é favorita.

O partido ainda comanda um dos maiores orçamentos da República, o da cidade de São Paulo, e é nela que a ideia da incorporação mais avança.

O prefeito Gilberto Kassab é o fiador no DEM da aliança com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra. As largas chances de que o tucano seja derrotado coloca em xeque o futuro desta aliança.

A aproximação de Kassab com o PMDB deu-se em sua reeleição, que teve Alda Marcantônio, uma quercista de carteirinha, como vice na chapa e estreitou-se agora com a perspectiva de falência da aliança com o PSDB.

Kassab não precisa da incorporação se mudar de mala e cuia para PMDB uma vez que, sem mandato a partir de 2013, escaparia das punições da fidelidade partidária, mas a aproximação sinaliza um rumo para o partido.

A permanecer numa aliança com os tucanos, Kassab veria estreitadas as perspectivas de sua carreira política. A se confirmar seu favoritismo na disputa estadual, Geraldo Alckmin passará a ser o condestável do PSDB paulista. A completa ausência de Kassab na campanha de Alckmin é apenas um dos indicativos de que dificilmente haverá espaço para o prefeito disputar, por exemplo, o Senado em 2014 em aliança comandada pelo eventual governador.

Kassab vai tratando de engordar seu quinhão com a eleição de uma bancada robusta no Estado. A bancada do DEM em São Paulo, que já é duas vezes maior que a do PMDB [6 x 3], pode crescer ainda mais.

Entre os pemedebistas de São Paulo, o grupo de Orestes Quércia, que ainda comanda o diretório e agora se vê desfalcado com a desistência de sua principal liderança da disputa ao Senado, é o que trata mais abertamente da aproximação.

Mesmo sem a verticalização imposta, a aliança DEM/PSDB acabou se nacionalizando e hoje os dois partidos estão na mesma coligação na maioria dos Estados. Não dá para tratar de divórcio antes do resultado das urnas, mas uma aproximação do DEM com o PMDB já teria, de saída, como um de seus principais adversários o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), pai do atual presidente do partido. Parecem pequenas as chances de aproximação entre Maia e o governador quase reeleito, Sérgio Cabral (PMDB), mas também já foram maiores as perspectivas de eleição do ex-prefeito ao Senado.

O PMDB e o DEM estão em palanques opostos em 15 Estados, e só as eleições poderão dimensionar os obstáculos de uma aproximação. No Norte, há baixas resistências, a serem contornadas pela família Sarney, que sempre manteve os pés em ambas as canoas. No Nordeste, os nós limitam-se a Sergipe e Paraíba. No Sul, a imprevisibilidade de Requião parece ser o único constrangimento. O Centro-Oeste é um enrosco só, a começar por Goiás, o maior deles. E em Minas, o poder de atração de Aécio Neves torna tudo mais difícil.

Uma incorporação teria que ser votada em convenção do partido o que, no caso do DEM, é um encontro para referendar o que já está conchavado. Só a perspectiva de voltar a ter franqueado o acesso ao gabinete de um diretor do Banco do Brasil ou da Petrobras seria capaz de desatar esses nós. Não se trata mais de reeditar a aliança dos anos 80 de onde nasceu a Nova República ou o Centrão da Constituinte. Seja qual for o eleito é o centro que comandará. O que está em jogo é a disputa de poder interna a uma grande coalizão de governo. As urnas dirão se o DEM será capaz de atravessar mais quatro anos de declínio sem perspectiva de voltar ao poder.Valor Econômico

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